Como seria hoje a nossa alimentação se não conhecêssemos a
abóbora, o amendoim, o ananás, a batata, o cacau, o feijão, o girassol, o
milho, o pimento e o tomate?
Muito monótona, certamente.
Muito monótona, certamente.
Ora, na realidade, todos estes produtos são de origem
americana e eram perfeitamente desconhecidos na Europa, e no resto do mundo,
antes de 1500. Mas, com as grandes viagens dos Descobrimentos tudo mudou e a dieta dos europeus, alterou-se
radicalmente, sendo enriquecida com numerosos produtos vegetais oriundos de
outros continentes.
Por exemplo, a dieta
medieval portuguesa era bastante limitada, constando sobretudo de pão de
trigo ou centeio; de legumes variados, com predomínio para as couves, o grão e
as favas; de frutas, como as castanhas, as maçãs, as uvas ou os marmelos; de
vinho e de azeite; e de mel, que servia de adoçante.
Algum peixe e alguma carne completavam a mesa dos mais abastados.
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Lisboa no séc. XVI era uma cidade
fervilhante, repleta de
visitantes exóticos.
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Nas novas terras contactadas, em África, na Ásia e na
América, os navegadores portugueses depararam com novos alimentos e novos
condimentos, anteriormente desconhecidos ou pouco vulgarizados.
Transplantaram-nos para Portugal ou para os arquipélagos da
Madeira, dos Açores, São Tomé e Cabo Verde. Estes arquipélagos funcionaram como
jardins de aclimatação por beneficiarem de climas mais ajustados às novas
plantas.
Graças à Expansão foi possível acontecer a viagem das plantas:
- Da Ásia, vieram
especiarias exóticas como a pimenta, a canela, o gengibre e o cravo-da-índia,
que se vulgarizaram em Portugal e, logo depois, na Europa. Vieram também frutas
então quase desconhecidas entre os europeus, como a banana, a manga e a laranja
doce. Da longínqua China, os portugueses trouxeram ainda o chá, que é hoje a
bebida mais consumida a nível mundial.
- Da América,
trouxeram os navegadores ibéricos (portugueses e espanhóis) numerosos produtos
que hoje fazem parte integrante da gastronomia europeia, como a abóbora, o
amendoim, o ananás, a batata, a batata-doce, a baunilha, o cacau, o caju, o
feijão, o girassol, o maracujá, o milho, a papaia, o pimento e o tomate.
O Livro de cozinha da Infanta D. Maria dePortugal, século XV, neta de D. Manuel I é o
livro de receitas mais antigo de Portugal.
A receita de picadinho
de carne de vaca mostra-nos a importância das especiarias na culinária: lavem carne de vaca bem macia, e piquem-na
bem miudinha. A seguir, adicionem-lhe cravo, açafrão, pimenta, gengibre, cheiro-verde bem cortadinho, cebola batida, vinagre e sal. Refoguem tudo no
azeite, e deixem cozinhar até secar a água. Sirvam sobre fatias de pão.
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D. Maria de Portugal |
Assim, espécies completamente novas foram facilmente adotadas em zonas do globo distintas das de origem, tendo inclusivamente substituído as espécies autóctones, devido às suas vantagens nutritivas e de produtividade.
O milho, por exemplo, foi um cereal que se impôs pela sua produtividade. Introduzido em Portugal por volta de 1520, chegou à Birmânia e à China em 1597, pela mão dos portugueses. Bastou menos de um século para dar a volta ao mundo.
Em
suma, as comunicações
intercontinentais permitiram que homens, animais, plantas, objectos
e ideias cruzassem o mundo em todas as direcções.
Hábitos localizados em áreas restritas do globo foram-se
generalizando, lenta mas irreversivelmente, como sucedeu, por exemplo, com o
consumo do açúcar, da pimenta e da canela, do gengibre e do cravo, do tabaco,
do café, do chocolate, do chá, do algodão e das porcelanas ou com a utilização
de armas de fogo.
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